terça-feira, 28 de setembro de 2010

Sarau teve leitura, dança e o silêncio exigido pela burocracia

Mayara, André, Marcely, Cláudia, Douglas e Maryah na leitura de ontem
A leitura foi feita por alunos do Cena Hum
Liz Santos acompanha a leitura feita por seus alunos
O quinto sarau "Tardes de Dionísio", realizado ontem na Casa Hoffmann, foi marcado pela estreia de uma nova autora e por surpresas provocadas pela burocracia. Pela primeira vez um texto de Cynthia Becker - hoje residindo em São Paulo, mas que participou no ano passado do Núcleo de Dramaturgia SESI Paraná - era lido em público. "Escola São Francisco de Assis" foi apresentado por alunos da Academia de Artes Cênicas Cena Hum, sob a direção da atriz, professora e diretora Liz Santos.

Cada sarau "Tardes de Dionísio" é programado com a intenção de juntar, num mesmo evento, várias formas de arte. Além de apresentar as leituras de textos dramatúrgicos, o evento traz para a cena compositores, cantores, músicos, arranjadores que participam com trabalhos autorais. Nos quatro eventos anteriores todos os participantes apresentaram-se e autorizaram junto ao ECAD a execução/apresentação de suas músicas sem a exigência de pagamento de direitos autorais. Até porque os compositores que lá se exibiram não são filiados a nenhuma entidade que registra direitos autorais de suas músicas.

Ontem, dentro da organização e da produção do quinto sarau, foi encaminhado ao ECAD a autorização assinada pelos músicos e compositores Cláudio Avanso e Marco Cardoso, com a lista das músicas a serem apresentadas e, também, com cópias de seus documentos (CPFs e RGs). Avanso havia informado que não estava vinculado a nenhuma entidade. Portanto, a autorização da liberação de suas músicas para o sarau tinha que ser feita diretamente junto ao ECAD. Horas depois do pedido ter sido enviado ao ECAD, veio a informação de que tanto Avanso quanto Cardoso eram filiados à ABRAMUS e que, portanto, somente através dela a autorização de liberação das músicas do programa poderia ser feita. Avanso tentou junto ao escritório local da ABRAMUS para que fosse liberada a autorização, visto que as músicas que seriam apresentadas não são registradas naquela associação. Infelizmente a burocracia da ABRAMUS exige que o pedido seja feito com um mínimo de cinco dias. E assim, a ABRAMUS não podia liberar o show e, por consequência, o ECAD não expediria a autorização para as músicas de Avanso e Cardoso serem apresentadas no quinto sarau "Tardes de Dionísio".

A organização do evento decidiu, então, cancelar a participação do ALMA TERRA DUO - formada por Cláudio Avanso e Marco Cardoso. Foi informado, então, via telefone para a Thaísa, do ECAD que não haveria apresentação musical no sarau daquela tarde. Como uma das cinco composições dos instrumentistas foi coreografada por Petra Schuster para apresentação na tarde de ontem, com as participações de alunos da Backstage Balé, não havendo música - ao vivo, nem gravada - a coreografia com seis bailarinos ficaria prejudicada e não haveria sentido apresentá-la. Frustrou-se, assim, também, não só os músicos compositores, como a coreógrafa e os bailarinos, além do público que não pode assistir a uma apresentação do ALMA TERRA DUO com a viola caipira de Cláudio Avanso e o violão de Marco Cardoso.

Uma hora antes de acontecer o Sarau, a Casa Hoffmann recebeu a visita de um representante do ECAD - o fiscal Jonas - que estava ali para cobrar os direitos autorais da apresentação daquelas músicas. A coordenadora de Dança da Casa Hoffmann, Eleonora Greca, e o produtor do sarau Rogério Viana informaram ao fiscal do ECAD que já havia uma decisão de que não haveria música do ALMA TERRA DUO, nem música para a dança. O fiscal, então, com o programa do evento na mão - que já estava impresso desde a manhã de ontem - disse que havia uma programação apresentada naquela impresso e que ele teria que cumprir a cobrança dos direitos autorais. Eleonora e Rogério enfatizaram veementemente que não havia música e que o programa teria a participação dos bailarinos Airton Rodrigues e Rafael Ribeiro, que fariam uma improvisação coreográfica sem música, dançando no silêncio. O fiscal mesmo contrafeito, disse que acreditaria em Eleonora e Rogério e que, caso houvesse a manifestação dos músicos sobre a participação no evento, que ele voltaria para cobrar os valores. A título de informação: a taxa para liberação das músicas pelo ECAD era próximo de 310 reais e com desconto ficaria em torno dos 290 reais.

O evento saraus "Tardes de Dionísio" é realizado com a participação voluntária de todos os artistas envolvidos - atores, autores, diretores, coreógrafos, bailarinos, músicos, compositores, cantores, arranjadores. Não há nenhum tipo de cobrança de ingressos. O acesso é livre e a Casa Hoffmann comporta, no máximo 60 pessoas, sendo que 50 pessoas tem acesso a cadeiras. O evento não tem nenhum tipo de apoio financeiro de nenhuma entidade ou recebe financiamento de nenhum mecenas. Assim, não há como cobrir despesas com o pagamento de direitos autorais para nenhum compositor. 

O quinto sarau

Sem a parte musical, uma das atrações dos Saraus "Tardes de Dionísio", a apresentação do quinto encontro, ontem, na Casa Hoffmann, contou inicialmente com a leitura do texto "Escola São Francisco de Assis", de Cynthia Becker pelos alunos/atores da Academia de Artes Cênicas Cena Hum - André Oliveira, Maryah Monteiro, Cláudia Beeck, Douglas Borba, Marcely Karam e Mayara Nassar. A direção foi da atriz, professora e diretora Liz Santos.

O encerramento do sarau, com absoluto silêncio, nem uma forma de assovio que pudesse configurar uma apresentação musical, foi feito pelos bailarinos Airton Rodrigues e Rafael Ribeiro, que improvisaram uma coreografia em cima do tema da peça de Cynthia Becker.
Rafael Ribeiro e Airton Rodrigues: dança e movimento em silêncio


2 comentários:

  1. Tem muita coisa legal sendo produzida em Ctba e esse Sarau é uma vitrine para artistas de todas as áreas.. Curitibanos,vamos deixar de ser vampiros que querem apenas os pescoços de fora!
    O sangue daqui também é bom!

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  2. Nem sei o que dizer! Puxa vida! A gente vê tantos desvarios nesse mundo e se ilude que a arte possa estar liberta. Possa promover a liberdade pra pensar, pra sentir, pra comunicar.
    A gente demora tanto tempo pra encontrar casas abertas (como a Casa Hoffmann) que se propõe a dialogar com diferentes expressões artísticas. A gente demora tanto tempo pra se reunir e tentar construir uma linguagem que comunique. Construir coletivamente demanda tempo .... tempo formatado por horas mesmo.
    E ... por burocracia ... insitui-se o silêncio.
    O silêncio forçado. O silêncio sugerido.
    Que pena!
    Que triste!
    Meus sentimentos Rogério, Douglas .... e aos bailarinos e cantores-compositores que tiveram o silêncio imposto (impostos .... por cifras).
    Que estejamos fortes pra seguir!

    Bel

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